Perfume

Que me leves contigo e me deixes dormir numa pequena cama de palha , não me importo , que eu me feche num pequeno refúgio e não saía de lá . Que me leves contigo e me protejas, me envolvas na tua vida, sem piedade , não me importo de ser fugitiva , ou despersa , quero estar contigo . Que me dês a mão e que eu não a largue, eu fico contigo . Eu oiço os mais variados tiros lá fora, mas eu não me importo , e deito-me debaixo da cama , enrrolo-me num enrrolar de longa duração , fecho os olhos e respiro o pó suave , sem vontade de o largar. Não me importo . Estou contigo . Esta guerra, é mais guerra , se nos conseguir afastar, eu não dou essa vitória à guerra, eu fico contigo e não te largo . Não largo a tua mão e oiço os tiros lá fora num estrondo de carinhos , nossos , nossos . Agarro-te, não te deixo eu fico debaixo de duas mantas, quentes, não deixo de te amar , fecho a porta a sete chaves e fico contigo , não te deixo . Esta guerra, não é guerra, porque estou contigo . No campo de batalha estarás e eu sozinha esperarei por ti aqui, sem ti mas contigo , contigo . Não me podes dizer adeus , eu digo-te até já , porque te preparei o almoço , eu só quero que o proves . E não há nada que possas fazer . Ficarei contigo, neste campo de batalha , oh , esta guerra não é guerra . E aqueci o nosso gato , abracei-o tanto num abraçar que é só teu, mas que é meu também, porque é nosso . Abracei-o e molhei-o, as lágrimas eram muitas e não fiz caso. Molhei-o porque precisava e não estavas comigo e ele estava, branco, assustadiço, tão gato. E fui-me deitar quando te ouvi gritar em mim, por dentro . Sofres porque sim e porque (não) queres . Esta guerra não é guerra, tu não me deixas, não me deixas . E na tua almofada corre o teu perfume que me deixa num pensar desleal , por momentos fui fraca e agarrei-me a ela, num pensar desleal , por momentos traí-te, pensei que não voltaria a te imaginar comigo com o teu perfume , mas tu estás comigo . O teu perfume, está .